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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Eu me recordo com exatidão...


Era manhã, estava frio, o vento soprava em direção ao norte.
Eu abri a janela do meu quarto, e ouvi algumas vozes, ou quem sabe eram ruídos, enfim, algo que me aguçava o pensamento e a perspicácia.
Tomei um banho rápido, me vesti, comi algumas bolachas de mel e bebi um leite quente; minha curiosidade fez-me ir mais além, decidi ver o que havia lá fora.
Porém o medo me fizera recuar por alguns instantes, afinal à civilização mais próxima ficará a uns três ou 4 km.
O meu casaco me fizera tremer um pouco, pois o vento balançava levemente meus cabelos, e me arrepiava a pele.

Andei mais ou menos uns 500 metros, e quando resolvi voltar, escutei um grito, um chamado. Fiquei insegura, não sabia se prosseguia, ou voltava dali.
Criei coragem, respirei fundo, e fui em frente.
A neblina estava fosca, olhei em direção as montanhas, não tinha certeza, me parecia um homem, de aproximadamente um metro e oitenta de altura, um pouco forte, gritei, perguntei quem era na expectativa de ele responder, porém se mantivera imóvel.
Aproximei-me, e enxerguei que aquilo não passava de uma simples ilusão de ótica, era alguns arbustos ao redor de uma pequena arvore.
Quando eu estava voltando, fui surpreendidamente atacada por uma pessoa, uma mão gelada que me tocava os ombros. Dei um grito, esquivei-me, e com a respiração levemente perceptível, indaguei-lhe.
-Quem és tu? O que fazes por aqui?
E ele me respondeu.
-Chamo-me Guilherme, eu me perdi, meu carro quebrou, e já andei quilômetros em busca de um posto de gasolina, uma oficina ou alguma coisa que faça ele funcionar novamente; gritei pela manhã inteira, mais ninguém me ouviu, desculpa se a assustei, não foi minha intenção, já estou bastante cansado e sem fôlego; será que podes me ajudar?
-Sim, claro. Você deve ser um desses turistas que se perdem dentre as montanhas.
Ele sorriu disfarçadamente e disse.
-Sim, sou.
Eu o levei até minha casa, ele tomou um banho quente, eu lhe dei algumas roupas das quais eu já não utilizava, eram roupas grandes e por isso serviram nele.
Tomou um leite comeu algumas frutas, e foi em bora.
Na verdade, antes de ele terminar o banho, eu olhei dentre as frestas da porta, ele estava se enxugando, e quando abriu a porta me viu, eu estava com os olhos esbugalhados, ele se aproximou e me tocou os lábios levemente, como a brisa toca a pele. Eu me senti nas nuvens, e me entreguei aquele instante. Ele me fizera delirar.
Fomos para o quarto, e como em um toque de mágica, eu o olhei como sendo o amor da minha vida. Entreguei-me de corpo e alma, e quando nos demos noção, já se passava do meio dia.

Fiz um almoço, e ele almoçou junto comigo.
Era incrível, parecia que eu já o conhecia de vidas passadas, ele me parecia tão familiar que os seus suaves toques me deixavam boba.
No final da tarde, ele se foi, mais deixou comigo seu cheiro, fixado em minha pele.
Alguns dias se passaram e nada dele voltar.
Aquele sentimento foi crescendo em mim, e a esperança de vê-lo novamente também.
Por mais que eu saísse todas as manhas e fizesse o mesmo percurso, eu não iria encontrá-lo novamente.
Eu poderia gritar por horas, dias, semanas, mais ninguém responderia ao meu chamado.
Como ele se foi? Eu não sei.
Para onde ele foi? Eu não sei.
Se ele tinha mulher, filhos, família? Eu também não sei.
Sei apenas que ele me fez por alguns momentos a mulher mais feliz do mundo.
E quando as minhas esperanças, já haviam sido desmotivadas, pela ausência, e pela inexistência de informações. Eu o vi outra vez.
Bati os olhos nele, e me veio à memória tudo o que tive com ele, mesmo que apenas por algumas horas.
Eu estava na cidade, fazendo compras, e ele em um restaurante do outro lado da rua.
Cheia de felicidade, louca para poder fazer todas as perguntas que me ficaram na cabeça durante anos, fui até lá, e quando estava indo em direção a mesa que ele estava, um outro casal se levantou antes, e veio à garçonete me servir.
Eu não queria nada, apenas ele, e sabia que isso a funcionária do pequeno restaurante não poderia me dar.
Não sei se ele me reconheceu, mais tenho a certeza de que aquele amor, ainda estava vivo em mim.
Quando eu fui para cumprimentá-lo, veio uma moça, jovem com um neném de colo, ela deveria ter aproximadamente uns 26 anos, e chamou-o por AMOR; ao ouvir aquela palavra, meu mundo já não era o mesmo.
Inconformada com a situação e me vendo diante de um ridículo papel.
Sai dali e fui para casa.

No outro dia, quase morrendo de curiosidade, voltei ao restaurante e perguntei para a mesma funcionária que havia me atendido no dia anterior, se ela conhecia o casal daquela tal mesa, e ela me respondeu apenas.
- não sei direito quem são, sei apenas que estão morando na cidade, há quase duas semanas, bem ao lado da loja de brinquedos.
E antes mesmo de dizer obrigada, eu sai, e fui ver com meus próprios olhos se isso era verdade.
A casa tinha poucas janelas de vista, duas ou três talvez, e que ainda tinha cortinas, esperei do outro lado da rua até que alguém aparecesse.
Depois de exatos 32 min, ele saiu de casa, sozinho.
Eu o segui, e quando não tinha ninguém na rua, o parei e fiz as seguintes perguntas.
-Ainda lembras de mim?
-Acredito que sim, você é a moça que me ajudou a uns 2 anos atrás, certo?
-Certo, sou eu sim, por que fez aquilo comigo? Você tinha esposa, tinha família.
-Desculpa mais, o que fiz com você?
-Como assim, o que fez? Não se lembra? Fizemos amor.
-Espera, não fizemos amor, fizemos sexo, apenas isso, e a respeito eu não tinha mulher, não era casado, e não tinha nenhum filho.
-Fez por fazer?
-Ora, pois, você não?
-Pensei que tivesse algum sentimento?
-Sentimento? Nunca havia te visto na vida, e simplesmente tivemos um breve ‘caso’, não chamo isso de sentimento. Agora se me der licença, tenho que comprar leite para meu filho.
-Sim, toda. E por obséquio, faças-me a fineza de nunca mais olhar na minha cara.
-Tudo bem, já que insiste.
-Nossa como eu pude me iludir tanto, fiquei anos na esperança de encontrar-te novamente, para isso? Sinceramente preferiria nunca ter te visto outra vez. Adeus.
-Adeus.
Quando ele se foi, sem saber levou junto uma parte do meu coração, doeu profundamente no interior da minha alma, e eu vivi o resto da minha vida, lamentando um amor, cuja qual nunca existiu.


                                                                                                       FIM!!

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